quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Nos países com sucesso não há chumbos e o 1.º ciclo tem seis anos

Por Bárbara Wong
É preciso mais investimento para aplicar algumas medidas em Portugal, defendem especialistas da área da Educação

Seis anos de primeiro ciclo com um professor generalista, nalguns casos coadjuvado por outros docentes de áreas específicas. Na Austrália, Canadá, Finlândia, Japão, Reino Unido e Irlanda não há chumbos, mas progressão automática. A excepção é a vizinha Espanha, onde o aluno pode ficar retido num dos ciclos, uma única vez, ao longo da escolaridade básica. Estas são algumas das opções educativas feitas pelos países mais bem colocados no estudo PISA, que avalia a literacia matemática, científica e na língua materna dos estudantes de 15 anos, dos países da OCDE. O relatório Opções Educativas Sectoriais de Alguns Países Integrados no PISA, coordenado por Glória Ramalho, ex-presidente do Gabinete de Avaliação Educacional, é apresentado num seminário sobre os impactos das avaliações internacionais, promovido pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), hoje, em Lisboa. Para Ana Maria Bettencourt, presidente do CNE, este debate é importante. "Mesmo que estejamos face a contextos muito diferentes, o conhecimento de soluções adoptadas e a sua discussão permitem operar rupturas num pensamento por vezes bloqueado".

Por cá, a Lei de Bases do Sistema Educativo, de 1986, já previa que o professor do 1.º ciclo fosse coadjuvado. Também a formação dos professores abre as portas a que os futuros docentes possam dar aulas nos dois ciclos. Por isso, podia haver um único ciclo, dizem os responsáveis pelas confederações de pais Albino Almeida, da Confap, e Maria José Viseu, da Confederação Nacional Independente de Pais e Encarregados de Educação.

Também a FNE vê com bons olhos a união dos dois ciclos, desde que haja "um maior investimento", aponta João Dias da Silva, secretário-geral. "Desde que não haja perdas de apoios no 2.º ciclo", salvaguarda Mário Nogueira, secretário-geral da Fenprof. O problema são os equipamentos, alerta José Manuel Canavarro, ex-secretário de Estado da Administração Educativa, lembrando que os novos centros escolares construídos pelas autarquias podem não ter lugar para os alunos do 2.º ciclo.

No que diz respeito às retenções, à excepção de José Manuel Canavarro, a opinião é unânime: é preciso mais investimento em recursos humanos para identificar os problemas logo que estes surgem. Professores de apoio, dizem a Fenprof e a FNE. "Admito um sistema mais rigoroso e mais flexível, sem retenções, desde que haja uma avaliação continuada", remata Nuno Crato, da Sociedade Portuguesa de Matemática.


A importância da intervenção precoce

Aposta no ensino de qualidade e em bons professores contribui para o sucesso escolar

Se no Japão o diagnóstico da criança é feito logo no pré-escolar, nos restantes países analisados essa avaliação é feita assim que surgem as primeiras dificuldades, geralmente entre os cinco e os seis anos de idade, revela o estudo coordenado por Glória Ramalho. Há uma "grande insistência num ensino de qualidade centrado nos primeiros anos de escolaridade, bem como na necessidade de uma acção preventiva e de uma intervenção rápida", diz. Nem em todos os países as turmas são organizadas por idade. Por exemplo, no Reino Unido e na Austrália, os alunos estão por níveis de competências a Matemática e língua materna. Em alguns países são definidas metas de aprendizagem e o destaque dos tópicos mais importantes "no sentido de evitar abordagens superficiais" - a primeira medida apresentada por Isabel Alçada foi precisamente estabelecer essas metas. A avaliação é contínua. Também os professores são importantes para o sucesso escolar: na Finlândia, em cada 15 candidatos apenas um integra a profissão. B.W.

PÚBLICO, 16.12.2009